sexta-feira, 22 de julho de 2011

248° ao 252°


CORTINA DE FUMAÇA (1995)
Idioma: Inglês
Direção:Wayne Wang, Paul Auster


No filme , o acaso, registrado pelas lentes do personagem Auggie Wren, dono de tabacaria, é peça-chave na trama. Ao registrar com sua maquina fotográfica, todos os dias, no mesmo horário, uma esquina, em Nova York, Auggie torna o compromisso com este instante, um projeto de vida. Ao final, reúne mais de quatro mil fotografias do mesmo lugar, em dias seguidos, com o mesmo enquadramento e a mesma distância. E orgulha-se ao dizer “afinal é a minha esquina, uma pequena parte do mundo e as coisas acontecem ali como em qualquer outro lugar”. Vale a pena ver por ter uma moral de valores muito forte em seus personagens.Há uma relação de personagens muito parecida com a do filme Zorba o Grego, entre o escritor que não vive e o personagem vivo que não expressa sua arte. No entanto, aqui, Auggie, o dono da Tabacaria, acaba sendo mais profundo em sua obra de vida do que o escritor Paul, cliente assíduo da tabacaria. Na melhor sequência do filme, Auggie mostra os álbuns de fotos que tem tirado há muitos anos.Paul olha com interesse, mas com certa inquietação por não compreender as razões daquelas fotos, uma por dia, todos os dias, na esquina da tabacaria.Em outro momento, quando Paul precisa de um conto de natal, recorre a Auggie. Claro, diz ele, conheço toneladas delas. E é necessário dizer que o Harvey Keitel é outro ator muito bom. Apenas em plano ouvimos a história com a atenção de quem está na mesa e quer participar da conversa.Esses dois momentos valem o filme. De resto, como sempre, o interesse cultural de ver uma visão de Nova Iorque mais de submundo.
Nota:8





AS COISAS SIMPLES DA VIDA(2000)
Idioma: Japonês
Direção:Edward Yang


NJ Jian mora com sua esposa, seus dois filhos e a sogra já idosa, formando uma típica família de classe média. NJ é sócio de uma bem-sucedida empresa de computação, mas, se não buscar novos rumos, em breve irá à falência. Para tanto, ele busca fazer uma parceria com Ota, um inovador designer de jogos de computação no Japão, que pode dar o novo toque que sua empresa precisa. Mas as coisas começam a dar errado para os Jian quando a integrante mais velha da família sofre um derrame e entra num coma o qual poderá nunca mais acordar. Neste meio termo, NJ ainda reencontra Sherry, seu primeiro amor de infância, que reaparece em sua vida, agora casada com um americano. Já vimos muitos filmes naufragarem na tentativa de ser filosóficos e encomendar aos seus personagens uma série de reflexões sobre o tempo e o mundo em que vivemos. Aqui felizmente não se repete: tudo que é dito e muitas vezes são verbalizações das idéias centrais do filme. Edward Yang filmou a nuca de Taipei, filmou a parte da vida que não é possível ver senão através da objetiva de uma câmera que alguém posicionou de maneira amigável. Não há nada mais simpático e solidário no filme do que o gesto de Yang-Yang de fotografar a nuca das pessoas, para que elas possam ver uma parte do próprio corpo que a visão não alcança. Retrato do cineasta enquanto criança, Yang-Yang é quem dá as cartas no fim das contas, respondendo positiva e indiretamente a uma pergunta de Ting-Ting “se o cinema nos atrai justamente porque é tão parecido com a vida, não seria melhor não ir ao cinema e continuar vivendo?”. O que encerra o filme é a fala dessa criança diante da avó recém-falecida, com a profunda sabedoria que resulta de seu olhar quase literal sobre as coisas do tipo: “só olhamos para frente, só podemos saber as coisas pela metade”. não é uma lição de vida, mas uma lição sobre a vida, uma obra que se soma à vida para compor um novo substrato. Por isso soa falso pensar que o verdadeiro fato é a vida encenada, imaginada, ou mesmo sonhada. O pressuposto de Yang é seqüestrar a vida para depois enviá-la de volta com alterações sutis. Ele quer filmar o que ainda não vimos por uma simples condição natural nada de condenável nem de reprovável nessa cegueira parcial, apenas um dado da espécie. Quando Ting-Ting fecha os olhos, com o rosto deitado no colo da avó, vê um mundo que lhe parece ainda melhor que antes: o otimismo de um sonho de quem está acordado. Talvez seja um efeito semelhante o que se busca ao mostrar, lá para o meio do filme, aquele discreto plano de céu azul entre uma seqüência e outra. Quantas vezes lembramos de olhar para o céu assim tão detidamente?
Nota:9



OS DESAJUSTADOS (1961)
Idioma: Inglês
Direção:John Huston


A história se passa em Reno, uma pequena cidade de Nevada. Gay Langland é um caubói veterano que vive da captura de mustangs.Os passos de Gay se cruzam com os de Roslyn Tabor uma divorciada confusa e instável. Ele é um homem livre. No entanto, como os mustangues, é um espécime ameaçado. Agarra-se como pode aos ideais daqueles de sua estirpe. Seu inimigo é o avanço da dita civilização: a urbanização, a industrialização e as modernas relações de trabalho.Para Gay, o inferno é o trabalho assalariado. Seu amigo Pierce Howland outro caubói, abandonou a propriedade da família depois que seu padrasto o ofendeu com a oferta de um emprego remunerado. Em diversas cenas, Guido outro parceiro de Langland, o relembra da ameaça perene: tornar-se um mísero empregado.A cena final mostra Gay e Roslyn na cabine de um caminhão, viajando à noite pelo deserto.Roslyn pergunta a Gay como ele consegue se orientar no escuro. O caubói responde indicando uma estrela e revelando que basta guiar-se por seu brilho, que os levará para casa.Uma curiosidade que fiquei sabendo desse filme e que destaco aqui é que em Os Desajustados foi o último filme de Marilyn Monroe (sem contar seu projeto seguinte inacabado) e de Clark Gable antes de suas mortes. A de Marilyn, como sabemos, ainda é misteriosa. Já Gable morreu de ataque de coração dois dias após o término das filmagens. O veterano ator foi submetido, durante a realização do filme, a várias cenas cansativas (entre elas, a bela seqüência do aprisionamento dos mustangs).
Nota:9




CURVA DO DESTINO
Idioma: Inglês
Direção:Edgar Ulmer

Esse filme é um Noir. Sabemos que os filmes do estilo noir são, no geral, tramas cheias de reviravoltas, mocinhos, bandidos, o mundo ingrato do submundo levado aos extremos. Curva do Destino seguiria o mesmo caminho, se não fosse por um pequeno diferencial. A estória começa com Al Roberts, pianista de clubes noturnos americanos que para em um bar e, enquanto bebe, acaba se sentindo incomodado devido a uma música que tocam. Demonstrando um caráter extremamente desagradável dentro do ambiente causando estranhamento nas pessoas do local. Nesse momento ocorre uma seqüência em Flashback que irá no contar a história desse homem.O que poderia ser mostrado como um assassino, ou um fugitivo suspeito, dá lugar a um homem que vive da noite, porém solitário, idealista por excelência pretende se casar com uma moça a mesma tem o sonho de ser cantora em Hollywood. Passado um tempo na trama vemos que o mundo de Al Roberts se desmorona, sua namorada consegue ir para Hollywood. Sem ação, Al Roberts começa cair em desgraça, entregue a bebida passa seu tempo vagando pelas ruas. Ele resolve apostar todas as fichas em sua amada, e resolve ir até Hollywood em busca dela. No caminho encontra um homem que conta sobre sua vida, este estranho homem morre acidentalmente e ele então assume sua identidade.Começa aí uma longa e contínua seqüência de eventos catastróficos na vida do personagem principal. Edgar Ulmer mostra que é possível fazer bom cinema com muito pouco e, acima de tudo nos ensina a ser inventivo. Uma trama pretensiosa e perfeita, precisa em seus argumentos. Nos passa por meio de belas imagens um estudo preciso de como era a vida dos marginais nos E.U.A.
Nota:8



SABOTAGEM (1942)
Idioma: Inglês
Direção:Alfred Hitchcock

Um filme que é um dos meus favoritos de Hitchcock. Raras vezes, ele conseguiu conciliar momentos de humor e de suspense, chegando ao ponto de os oferecer, pasme-se, em simultâneo.Os EUA encontram-se num hipotético esforço de guerra e Barry Kane é um dos operário de uma fábrica de aviões. Após um encontro casual com um tal de Frank Fry , Kane e um seu amigo acorrem a um incêndio que deflagrara nas instalações. O amigo morre e Kane surge como principal suspeito do acto de sabotagem da fábrica. Ao saber disto põe-se em fuga, dirigindo-se à morada que ele tinha visto num envelope de Fry, de quem Kane já acredita ser o sabotador. Uma vez aí constata que existe uma enorme conspiração, envolvendo pessoas da alta sociedade norte-americana. Novamente em fuga, acaba por conquistar a ajuda de Pat uma modelo com a cara espalhada em outdoors por todo o país. Com a ajuda de um circo em viagem, chegam ao destino onde Fry havia comunicado que estaria, mas não o encontram. Kane opta por fazer-se passar pelo sabotador e entra na organização, acabando por ser descoberto em Nova Iorque, para onde Pat, raptada, havia sido levada. Após mais um atentado perpetrado por Fry, Kane persegue-o até à Estátua da Liberdade, onde a trama tem o seu desenlace.O tema central de “Sabotagem é um tema clássico em Hitchcok: o do falso culpado. Kane é acusado de ser o sabotador e tudo tenta para que a verdade apareça. É claro que só ele e os espectadores é que sabem da sua inocência, pelo que, com esta simples artimanha narrativa, o realizador coloca-nos ao lado da personagem principal. E é aí que permanecemos até ao fim, numa perspectiva subjectiva quem é e onde está o sabotador e não objectiva (o que é que vai ser sabotado). Um qualquer dicionário explicará que se trata de danificar, voluntariamente, instrumentos, máquinas, oficinas, ou equipamentos, com vista a determinado fim. E, na verdade, é isso que Fry faz e que Kane é acusado de fazer. Mas Hitchcock, genialmente, brinca com o conceito de sabotagem. Quando Kane, cercado, resolve estragar a festa da alta-sociedade, não a está a sabotar? E quando resolve pôr um fósforo junto ao detector de incêndios, isso não é um acto de sabotagem, se bem com boas intenções? Mas, o golpe de génio, a ironia sublime, acontece no circo ambulante, quando Kane e a companheira se refugiam num vagão, que se revela ser o dos horrores: a mulher com barba, o anão, o homem-esqueleto, as gémeas siameses, a mulher-gorda. Estes seres humanos, deformados, tiveram, ou não, a sua genética sabotada, para serem como são?Mas a ironia, vai ainda mais longe. Sempre que está em fuga, Kane cruza-se com outdoors onde Pat anuncia um produto. Só que a frase publicitária tem sempre um nexo com o que está a decorrer no filme. Outro momento semelhante ocorre quando Fry se refugia num cinema, no momento em que está a cena de tiros. A confusão entre os disparos , bem como as linhas de diálogo do filme com os acontecimentos reais é perfeitamente hilariante, chegando Hitchcock ao requinte de fazer um dos espectadores tombar com uma bala real e a sua mulher pensar que ele esta brincando com o disparo feito na tela. Um aspecto final que não pode ser esquecido é o sentido político do filme. Nesse sentido, dois momentos se destacam: o discurso de Kane ao chefe dos conspiradores, sobre a virtude dos valores em que acredita; e o de Pat a Fry, sobre o significado da Estátua da Liberdade.
Nota:9

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