sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

MAGNÓLIA



título original: (Magnolia)
lançamento: 1999 (EUA)
direção:Paul Thomas Anderson
atores:Philip Seymour Hoffman, Philip Baker Hall, Pat Healy, Tom Cruise.
duração: 188 min
gênero: Drama

Sinopse:
Em San Fernando Valley, Califórnia, nove pessoas terão suas vidas interligadas através de "O Que as Crianças Sabem", um programa de televisão ao vivo que existe há vários anos, onde um grupo de três crianças desafia três adultos. O atual grupo de crianças está indo para a oitava semana e, com isso, faltarão apenas mais duas para elas quebrarem o recorde do programa. Se conseguirem o feito ganharão uma alta soma, mas neste time vencedor está Stanley Spector (Jeremy Blackman), um garoto prodígio que é quem realmente faz a diferença, mas ele está começando a ficar cansado disto, pois entre outras coisas está sendo usado pelo pai (Michael Bowen) para ganhar dinheiro. O programa é comandado por Jimmy Gator (Philip Baker Hall), um veterano da televisão que vai morrer de câncer mas não está em estado terminal. Por coincidência Earl Partridge (Jason Robards), o produtor do programa, também está morrendo de câncer no cérebro e pulmão, mas este tem os dias contados. Earl é marido de Linda Partridge (Julianne Moore), que se casou com ele pelo seu dinheiro mas agora está desesperada, pois descobriu que ama o marido. Earl tem um enfermeiro particular, Phil Parma (Philip Seymour Hoffman), que lhe dá toda a atenção como profissional e como amigo. Earl pede a Phil que entre em contato com Frank T.J. Mackey (Tom Cruise), que cresceu odiando Earl e agora dá um seminário para solteiros, onde ensina técnicas para seduzir uma mulher. O motivo da raiva de Frank é que Earl abandonou sua primeira esposa, e mãe de Frank, após vinte e três anos de casados, quando esta estava com câncer, e deixou Frank com apenas quatorze anos para cuidar da mãe até a morte dela. Desta época em diante os dois nunca mais se falaram, mas Phil tenta localizar Frank de qualquer jeito para avisar que seu pai está morrendo. Coincidentemente Jimmy Gator tem uma filha, Claudia Wilson Gator (Melora Waters), que também não fala com o pai, pois o acusa de tê-la molestado sexualmente. Claudia é viciada em crack e Jim Kurring (John C. Reilly), um policial, vai à casa de Claudia após sido recebido uma queixa de som muito alto no apartamento dela. Jim se apaixona imediatamente por ela, que sente-se atraída e ao mesmo tempo insegura de manter esta relação. Há ainda Donnie Smith (William H. Macy), que em 1968 estabeleceu o recorde de "O Que as Crianças Sabem" mas quando ficou adulto se tornou um patético fracassado, que recentemente foi despedido e busca desesperadamente a felicidade.




Coisas absurdas acontecem o tempo inteiro e a vida é um emaranhado de coincidências fantásticas. Estas são as premissas que Paul Thomas Anderson utiliza para nos apresentar histórias que, como as pétalas de uma flor, apontam para diferentes direções mas partem de um mesmo núcleo,de uma mesma verdade: a culpa e o sofrimento humano. Magnólia é a maturidade da fórmula short-cut (defendida pelo mestre Robert Altman) que no filme ganha um andamento musical, com crescendo, diminuendo, clímax, rítmo e harmonia genialmente compostos. Com a contribuição da compositora Aimee Mann, o diretor cria um filme poderoso e instigante que ajuda o cinema americano a assumir a posição de produção mais interessante dos últimos anos.

OSCAR
Indicações
Melhor Ator Coadjuvante - Tom Cruise
Melhor Roteiro Original
Melhor Canção Original - "Save Me"

GLOBO DE OURO
Ganhou
Melhor Ator Coadjuvante - Tom Cruise


Curiosidades:
- O papel de Frank T.J. Mackey foi especialmente escrito para Tom Cruise. Paul Thomas Anderson criou o personagem após ter conversado com o ator e este ter demonstrado interesse em trabalhar em seu próximo filme;
- Vários atores de Magnólia participaram também de Boogie Nights - Prazer Sem Limites, filme anterior do diretor Paul Thomas Anderson. Entre eles estão Julianne Moore, William H. Macy, John C. Reilly, , Philip Seymour Hoffman, Alfred Molina, Luiz Guzman, Philip Baker Hall e Ricky Jay;
- Magnólia é o último filme do ator Jason Robards para o cinema;
- A palavra "fuck" é dita 190 vezes ao longo de Magnólia.


Magnolia Soundtrack
Warner (1999)
1. One - Aimee Mann
2. Momentum - Aimee Mann
3. Build That Wall - Aimee Mann
4. Deathly - Aimee Mann
5. Driving Sideways - Aimee Mann
6. You Do - Aimee Mann
7. Nothing Is Good Enough (Instrumental)
8. Wise Up - Aimee Mann
9. Save Me - Aimee Mann
10. Goodbye Stranger - Supertramp
11. Logical Song - Supertramp
12. Magnolia - Jon Brion







Um filme que faz o espectador pensar e se maravilhar. Obra-prima! Nunca me esqueço dessa incrível cena da chuva de sapos.

Alguns filmes não permitem meias interpretações. Ou você gosta ou não gosta. Ou você embarca na idéia e se dispõe a entendê-lo ou ele lhe parecerá um emaranhado de situações desconexas. Esses filmes são assim porque seus realizadores decidiram, em algum momento, serem mais fiéis ao cinema em si que ao público. Muitos cineastas, sobretudo os comerciais, querem primordialmente agradar ao público. A história tem de estar fácil de entender, deve estar enquadrado num gênero específico e por aí vai. É assim que muitas vezes os filmes descambam para clichês e fórmulas. Não que querer agradar ao público seja errado, muito pelo contrário. É extremo – e tremendamente errado – dizer que um filme comercial vai ser sempre previsível e ruim. E mesmo quando o cineasta decide ser mais fiel a uma idéia, a uma experiência cinematográfica nova, o público não pode em hipótese alguma ser preterido, pois ele é o fim maior de qualquer filme. Porém, certos filmes mais ousados exigem um espectador diferenciado, disposto a embarcar na experiência. Quanto mais radical a proposta, mais específico será público. E é aqui que se forma a tal divisão entre os defensores e os detratores do filme.




Magnólia é um caso típico dessa situação. Ame-o ou odeio-o é quase uma regra. Segundo trabalho do diretor e roteirista Paul Thomas Anderson, Magnólia é ousado sim, até certo ponto temerário, mas admirável dentro de sua proposta. É ousado porque, após seu primeiro e bem sucedido filme Boogie Nights – Prazer Sem Limites que, apesar da realização pouco convencional, não quebra com nenhuma estrutura pré-estabelecida, ele decide romper convenções e fazer um filme de narrativa recortada e complexa. É temerário porque, mesmo já tendo sinalizado em Boogie Nights ser um conhecedor exímio de cinema, a possibilidade de errar era grande. Ser visionário implica correr riscos. Se o resultado desse errado seria seu sepultamento direto. Mas é admirável porque, graças a esse ímpeto até arrogante, ele acerta e produz um clássico dos anos 90, um filme marcante, profundo, denso, enfim, cheio desses adjetivos que classificam experiências cinematográficas que valem a pena – valem a pena, repito, a quem se dispõe a entendê-lo. E mesmo esses podem não gostar, mas saberão porque não gostaram, ao contrário de outros que dirão que não gostaram porque o filme é simplesmente “sem sentido”.

Bem, mas vamos ao filme propriamente dito. Magnólia acompanha um dia na vida de várias personagens, em histórias paralelas que, vez ou outra irão se cruzar. Tom Cruise é o guru sexual Frank Mackey que ganha a vida ensinando homens a aumentar a sua auto-estima perante as mulheres; seu pai, o milionário Earl Patridge (Jason Robards) está em estado terminal e quer, a todo custo, reencontrar o filho com quem não fala há mais de dez anos; Linda (Julianne Moore) é madrasta de Frank, casou-se com Earl por dinheiro, mas agora, comovendo-se com a situação do marido, descobre que o ama e se afunda em antidepressivos. O enfermeiro Phil Parma (Philip Seymour Hoffman) também transita por esse núcleo e será a ponte entre Frank e Earl. Philip Baker Hall interpreta Jimmy Gator, espécie de Silvio Santos americano, que se descobre também em estado terminal em função de um câncer e, no limiar da vida, decide rever seu passado e retomar relações com a filha Claudia (Melona Walters) – agora drogada e sem rumo – a quem ele parece ter abusado quando criança. Stanley Spector (Jeremy Blackman) é um garoto prodígio que participa do programa de Jimmy Gator respondendo perguntas sobre cultura geral contra adultos e é explorado pelo pai. Donnie Smith (William H. Macy) ficou famoso quando criança participando também do programa de Jimmy Gator, mas agora, adulto, luta para se auto-afirmar e luta também contra a solidão. No meio de tudo isso, ainda temos o policial Jim Kurring (John C. Reilly) que se envolverá com Claudia. Ufa! A população de Magnólia é grande. E olha que aí só estão, digamos, os protagonistas. Nessa breve descrição, porém, se pode notar que as histórias não são tão descoladas assim e, todas têm uma temática mais ou menos parecida.








Magnólia é um filme longo – são mais de três horas de duração – porque, mesmo retratando um período curtíssimo na vida dessas pessoas, Paul Thomas Anderson preocupa-se em lhes dar complexidade e profundidade. Quase todas têm um passado, um fardo a ser carregado ou uma incongruência com a vida. Esse passado vai sendo apresentado aos poucos e com isso, vai se criando também a sensação de que todos ali estão à beira de um colapso – a sensação de que o acúmulo daqueles passados vai explodir a qualquer momento. É uma tensão incomum pra um drama, o que é muito bom. O maior mérito, como cineasta, de Paul Thomas Anderson é conseguir manter tantas narrativas simultaneamente e o acerto está nessa homogeneidade: todos parecem estar caminhando pra um mesmo ponto. Percebe-se que tudo aquilo vai desembocar em um clímax, o que gera expectativa e não torna o filme aborrecido – e aqui, temos uma grande e essencial preocupação com o público. Ainda dentro da condução de narrativas paralelas (que se penetram às vezes), tem-se uma evolução do talento demonstrado em Boogie Nights: são basicamente os mesmos recursos que corroboram a já vislumbrada competência e conhecimento de cinema de Anderson. Duas seqüências são marcantes no começo do filme: a abertura, que apresenta uma a uma as personagens, num exercício de montagem excelente e o plano-seqüência quando Stanley caminha pelos corredores do estúdio de TV. São recursos que tornam o filme agradável, instigante e até mais rápido.

Essa narrativa fragmentada não é invenção de Anderson, contudo. Robert Altman, por exemplo, ganhou notoriedade com esse recurso. Mas as “inventices” de Magnólia não param na estrutura. A cena mais comentada do filme e que, muitas vezes, sobrepõe-se a todo o resto, é a famosa chuva de sapos – recurso surreal e metafórico que surpreende muito quem assiste ao filme. O tal clímax, anunciado paulatinamente, se materializa dessa forma inesperada e que, de começo, gera confusão. Esse é o espaço que Anderson deixa para o público e a sua interpretação. O filme não se fecha em si mesmo: seu maior trunfo ou experiência reside aqui. O público, acostumado a receber tudo pronto, tem de se esforçar para encontrar um sentido, um fim. É por isso que é preciso “embarcar na viagem”. Desde o início, Magnólia convida a essa interação. Não é um filme pra se assistir passivamente. Tem de querer destrinchar o que está por trás de tantas personagens, acompanhá-las. Até certo ponto isso está light, mas, ao final, requer um complemento maior.

Por esse fator espectador, Magnólia tem inúmeras interpretações – assim como a chuva de sapos. Grosso modo o filme, a mim, fala do processo erro, arrependimento e redenção/perdão. Fala de como o egoísmo e o egocentrismo prejudicam a vida ao arrebentar os laços que nos unem aos outros. Vida, aliás, que é curta e totalmente sujeita a imprevisibilidades e acasos. Seriam esses acasos que o prólogo (que mostra supostos fatos reais, mas extraordinários) e a chuva de sapos representariam. Nossa vida deveria ser, portanto, uma revisão constante dos nossos atos. Mas esse não é de modo algum um pensamento fechado, mas sim subjetivo e individual. A coisa fica ainda mais confusa com a conotação religiosa que Anderson embutiu no filme. Lendo a crítica de PabloVillaça do site Cinema em Cena, descobri que são jogadas, em vários momentos, pistas que levam à conclusão de que a chuva de sapos seriam uma praga de Deus, um castigo. Eu, sinceramente, passei completamente despercebido quanto a isso ao assistir Magnólia. Por isso não vou entrar em detalhes. Só tenho a dizer que é um recurso interessante e que acrescenta um nível de elaboração ainda maior por parte de Paul Thomas Anderson. Mas mesmo sem isso o filme já seria instigante o suficiente.

Em resumo, Magnólia é uma cadeia muito bem amarrada de histórias que confluem para um final surpreendente. É fruto de uma mente que pensa o cinema desde sua elaboração, um filme que eu realmente amo.

Trailer:


E mais este video que é da cena da chuva de sapos.. simplismente magnífico!

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